20 anos pode até não parecer muita coisa, mas pra quem sabe fazer história já é um longo tempo pra marcar uma trajetória! É o caso do famoso Gin Tanqueray, que vem deixando seu legado desde a sua criação, em 1830. A família Tanqueray, de origem francesa, chegou à Inglaterra nos primeiros anos do século XVIII.
Os filhos da família Tanqueray, Charles e seu irmão, Edward, estavam decididos a se envolver com a produção de gin, bebida de sucesso crescente na Inglaterra desde meados do século XVII. Em 1830, a dupla estabeleceu a destilaria de Vine Street, na região de Bloomsbury, famosa pelas suas fontes de água na capital britânica. Com a morte do irmão poucos anos depois, Charles assumiu o negócio familiar e revolucionou a indústria com sua receita de um dos gins mais premiados e populares do planeta. O herdeiro dos Tanqueray foi um dos pioneiros a produzir o chamado London Dry, estilo mais seco e incisivo da bebida, feita a partir de um processo de destilação distinto do estilo mais popular até então. A receita exata é secreta e até hoje desconhecida, mas os sabores e aromas do gin seguem fundamentados em apenas 4 ingredientes: zimbro – indispensável na produção da bebida –, coentro, raiz de angélica e alcaçuz.
Com a morte do pai, Charles Waugh, aos 20 anos, assumiu a direção da Charles Tanqueray & Co. Com tino para os negócios, o empresário iniciou a exportação de Tanqueray para colônias britânicas e, em 1898, arquitetou a fusão da companhia com a Alexander Gordon & Co, produtora do gin Gordon’s. A união resultou na maior casa especializada em gin que o mundo conhecera até então. A produção de Tanqueray foi transferida para Goswell Road, endereço londrino da Gordon’s. Os negócios também atravessaram o oceano, os Estados Unidos passaram a ser um mercado interessante para o gin no século XX, e o rótulo ganhou força do outro lado do Atlântico graças a um certo paradoxo: com a Lei Seca em vigor, a proibição do consumo de bebidas alcóolicas fez com que a busca pelo London Dry Gin estourasse por lá. Reza a lenda que caixotes de madeira recheados de Tanqueray boiavam na costa americana à espera de comerciantes que revendiam a bebida em bares clandestinos e speakeasys. Um fato daquele período marca a grandeza de Tanqueray nos EUA, há anos o maior mercado consumidor do rótulo no mundo. Segundo a história, o primeiro drink consumido na Casa Branca para celebrar o fim da Lei Seca foi um T&T: Tanqueray e Tônica! A marca sobreviveu – e muito bem, obrigado – à proibição legal nos EUA, mas o verdadeiro teste de fogo veio anos depois, na Europa. Os bombardeios promovidos pelas tropas alemãs em 1941 durante a Segunda Guerra Mundial deixaram as instalações da Tanqueray praticamente destruídas em Londres. Apenas um dos alambiques de destilação, batizado de ‘Old Tom’, sobreviveu aos ataques. A intensidade das bombas foi tamanha que a fábrica em Goswell Road foi reaberta apenas em 1957. Anos mais tarde, ‘Old Tom’ voltou a funcionar – e, como um emblema de resiliência e resistência, segue em atividade até os dias de hoje.
Na década de 60, o rótulo foi um hit nas mãos de vários artistas nos Estados Unidos. Astros como Frank Sinatra, Sammy Davies Jr. e Bob Hope, eram constantemente vistos bebendo Martinis feitos com o gin no Buena Vista Social Club, em São Francisco. A publicidade gratuita surtiu efeito em grande escala. Joanne McKerchar, arquivista-sênior da Diageo, revela que, em 1964, o volume das vendas de Tanqueray dobrou nos Estados Unidos sem que a empresa desembolsasse um tostão sequer em propagandas. O ano de 1964 também marcou a entrada de John Tanqueray nos negócios da empresa. O tataraneto de Charles tinha como missão promover o rótulo de seus antepassados – empreitada que conduziu até 1989, quando, ao aposentar, botou um ponto final no envolvimento direto da família Tanqueray na companhia que leva o seu sobrenome.
Muito mudou desde a fundação da Charles Tanqueray & Co até hoje. A fábrica de Londres deixou de produzir em 1989, quando foi transferida para a região inglesa de Essex e, posteriormente, para Cameron Bridge, na Escócia, de onde saem milhões das emblemáticas garrafas verdes (o design é inspirado em coqueteleiras clássicas) para o mundo – e onde estão em pleno funcionamento o ‘Old Tom’ e o ‘Tiny 10’, o pequeno alambique datado de 1930 que dá nome (e onde é parcialmente feito) o Tanqueray Ten, lançado em 2000. Desde 1986, a Tanqueray faz parte do portfólio do conglomerado que viria a se tornar, em 1997, a Diageo. Mais do que nunca, o legado de Charles Tanqueray segue vivo – e muito saboroso.
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